Quanto ganha o Corretor de Imóveis?
Quero tratar aqui deste assunto delicado, eivado de muito preconceito e conceitos incorretos.
Primeiro de tudo, quero deixar bem claro que a meu ver a profissão de corretor de imóveis é uma das mais carentes de reconhecimento por parte de nosso mercado brasileiro.
Volto à pergunta anterior: quanto ganha o corretor de imóveis?
O corretor de imóveis é um profissional autônomo 100% comissionado. Vive somente de comissões, não de salário. Ou seja, só ganha quando vende.
Esta ideia de que ele vende, porém, para mim é incorreta, porque o corretor não é o vendedor, ele não é parte da negociação, ele apenas intermedia. A ideia correta é que o corretor ganha quando a negociação é finalizada por conta de sua intervenção. Isso sim. Ele é um intermediador e não só um vendedor. Não simplesmente vende imóveis, mas, principalmente, traz as partes para fecharem um negócio.
E de quanto é a comissão de um corretor?
A comissão ou honorários do corretor de imóveis estão tabelados pelo órgão fiscalizador da profissão, o CRECI, sendo que o corretor tem direito à comissão de 6 a 8 % sobre o valor negociado.
Colocar esta questão dos 8% ao lado dos 6% a meu ver é mais uma questão de retórica, porque o que vemos em nosso dia a dia é que na hora de acertar a comissão ninguém considera que o corretor possa ganhar mais que 6%. Muito pelo contrário, todos calculam pelo piso mínimo e ainda tentam barganhar. Nunca imaginam que o corretor poderia receber os 8%, mas que já está cedendo ao aceitar os 6%.
Ainda assim, muitos acham que a comissão paga é alta em relação a todos os esforços que envolvem a atividade de um corretor. Ou seja, acham que o corretor ganha muito sem fazer nada, “só para mostrar um imóvel”.
Se você também pensa desta maneira, sugiro considerar os seguintes apontamentos:
1º a figura do corretor de imóveis “mostrador”, ou commodity, deixa de ter existência num cenário de mercado em crise.
Ele não sobrevive. Aquele “profissional” que só sabe levar o cliente e dizer aqui é a sala, cozinha, quarto, não vende nas atuais circunstâncias, porque ele depende do cliente aparecer na imobiliária, e isso ocorre cada vez menos em nossos dias. O corretor profissional em alguns casos, é quem faz tudo, capta o imóvel, traz o cliente, negocia, levanta os documentos, entra com o financiamento etc. Para exercer bem sua profissão, ele precisa conhecer os bairros e suas características, precisa conhecer um pouco de construção, os detalhes do imóvel que vai apresentar, a situação da documentação, precisa captar imóveis, precisa conhecer de mídias sociais, de marketing, precisa entender de financiamento bancário, precisa entender de fotografia para tirar fotos de imóveis, precisa se apresentar bem para dar a impressão de confiança a quem vai deixar seu imóvel com ele.
O corretor também precisa ser um solucionador de problemas, intermediador e negociador. Quando surge uma oportunidade, precisa saber onde está o cliente e para quem irá oferecer. O que as pessoas enxergam, é só a finalização de um trabalho muito mais amplo e rigoroso que o simples “vender uma casa”.
2º Todos os custos de sua atividade são por sua própria conta. Isso envolve gastos com gasolina, celular e anúncios.
O corretor anda muito. Um bom corretor, pelo menos. A principal atividade dele é a captação. É desta forma que ele conhece cada vez mais a região que atua e faz mais contatos. A gasolina, porém, sai por sua conta.
Porém, como eu disse, NÃO EXISTE salário fixo em 99,9% dos casos. Às vezes você encontra aqui e ali alguma ajuda de custo. Algumas imobiliárias atuam de modo a que as comissões de alguma forma tenham uma porcentagem mínima que volta ao corretor na forma de auxílio para as pequenas despesas de sua atividade. Mas são algumas poucas, geralmente as que contam com uma grande equipe. Em cidades pequenas como a nossa, quase não há imobiliárias que atuem desta forma. Sem falar nos casos, não raros aqui, de corretores autônomos. E aí vai também o celular, sem o que o corretor não é nada hoje em dia.
3º O corretor de imóveis é um profissional não recepcionado pelas regras da CLT.
Sua atuação não gera vínculo empregatício algum. Sua relação com a imobiliária é de parceria, não de emprego. Em termos de condições trabalhistas, a corretagem é uma das mais ingratas. Em alguns casos ainda os corretores são pressionados a cumprirem com algumas metas dentro das imobiliárias em que atuam, e ainda assim não têm nenhum amparo pelas leis trabalhistas, o que a meu ver configura uma injustiça.
Também esqueça qualquer amparo dos benefícios de aposentadoria, INSS etc. O corretor precisa se cuidar para fazer seu próprio pé de meia para a idade mais avançada. Por isso vemos profissionais que já passaram da idade de trabalhar ainda atuando.
4º O corretor de imóveis não tem dia de folga.
Quando você pensar que o corretor de imóveis ganha muito pelo que trabalha, pense que ele não tem dia de folga. Em geral, os feriados e os fins de semana, inclusive os domingos, são os dias em que este profissional mais trabalha. Final de ano, natal, dia 31 de dezembro, páscoa, aniversário dos filhos, enfim, ele precisa trabalhar todos os dias para garantir que tenha alguma comissão ganha até o final do mês…ou da semana.
E pensa que no dia seguinte ao feriado ele tira de folga? Tá bom.. .
5º – O corretor não tem horário de trabalho determinado
O fato de não ter um horário de trabalho específico, ou seja, horário comercial não é uma regra para o corretor, faz com que ele possa ao mesmo tempo ter que trabalhar fora dos horários comerciais, então você pode ver corretores tendo que resolver os problemas de seus clientes em horários em que as pessoas costumam ou estar acordando, ou indo para casa descansar.
6º o corretor não fica com a comissão toda para si.
Outra coisa que as pessoas deixam de considerar, é que se estamos falando de um corretor que trabalha em uma imobiliária, ele não ganha os 6% a 8% em sua totalidade. Ele tem que rachar esta comissão. Em geral o que se vê é a divisão ficar no 50×50, fifty – fifty. Porém, em geral também, 10% fica com o captador do imóvel, portanto se o corretor não é aquele quem captou o objeto da negociação, vai ficar com 40% da comissão. Isso eu falo no geral, em alguns casos, o corretor recebe só 30%. Em outros raros, ele recebe um pouco mais, mas isto é mais incomum. O mais comum é sempre menos.
7º o corretor é um profissional 100% comissionado.
As pessoas que estão acostumadas a ganhar seu salário fixo todo mês costumam deixar de considerar o quanto pesa esta questão de que ser corretor é ser um profissional 100% comissionado. Diferente de outras profissões de vendedores em que há um vínculo empregatício e um salário com a empresa que contrata o profissional, no caso do corretor de imóveis ele SÓ ganha quando vende, ou seja, quando a negociação se conclui por conta de sua atuação. Portanto pode ocorrer que ele tenha todo o trabalho de semanas numa negociação e que no último momento ela venha a dar errado e ele não ganhe nada com isso. Pode ocorrer também que naquela semana o corretor não feche nada. Pode ser que naquele mês ele não feche nada, o que em épocas como estas é cada vez mais comum. Mas este mês podem ser dois, três meses. 60 dias. 120 dias. 180 dias. Isso tudo tendo que pagar não só os custos de gasolina celular entre outros para continuar exercendo a profissão (ou seja, pagar para trabalhar), como também tendo que arcar as contas em seu próprio lar, comida, água luz, aluguel ou financiamento, carro, despesas com filhos.
Portanto quando encontrar um corretor de imóveis da próxima vez, pense em tudo isso antes de querer negociar com ele sua porcentagem de comissão, e pense nele não como um profissional que se dá bem fazendo pouco, e que quer se beneficiar às suas custas, mas como um profissional que dá duro, ainda sim é muito desprestigiado, e que neste momento em que lhe atende talvez possa estar numa fase não muito fácil.